Os Astros (planetas) x Mitos

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Os Astros (planetas) x Mitos

Post by BlissFollower »

Há muito tempo atrás tive contato com um texto sobre a relação entre os astros e a mitologia. Acredito que deva ser conhecido de todos o fato de que os povos antigos tinham profundo interesse pelo céu, e portanto, acho interessante colocar aqui algumas das correlações que eram feitas por eles (gregos e romanos) entre os astros e os deuses. Fica como uma curiosidade!

***

O SOL : O simbolismo do Sol, é tão diversificado quanto é rica de contradições a realidade solar. Se não é o próprio deus, é, para muitos povos, uma manifestação da divindade. Pode ser concebido como filho do Deus supremo. O Sol imortal nasce toda manhã e se põe toda noite no reino dos mortos ; portanto, pode levar com ele os homens e, ao se pôr, dar-lhes a morte; mas, ao mesmo tempo, pode guiar as almas pelas regiões infernais e trazê-las de volta à luz no dia seguinte. Função ambivalente de psicopompo assassino e de hierofante iniciático. Ele pode cegar se olhado diretamente. O Sol gera e devora os seus filhos, dizem os Upanixades. Na República, Platão faz dele a imagem do Bem; para os órficos ele é o conhecimento do mundo.Seus raios representam as influencias celestes. A iconografia algumas vezes representa esses raios sob a forma alternativamente retilínea e ondulada, para simbolizar a luz e o calor, a luz e a chuva, que também são os aspectos yang e yin do brilho vivificante.Além de vivificar, o brilho do Sol manifesta as coisas, não só por torná-las perceptíveis, mas por representar a extensão do ponto primordial, por medir o espaço. Sob outro aspecto, o Sol é também destruidor, o principio da seca, à qual se opõe a chuva fecundadora.Se a luz irradiada pelo Sol é o conhecimento intelectivo, o próprio Sol é a inteligência cósmica, assim como o coração é, no ser, a sede da faculdade do conhecimento.

A LUA : simbolismo da Lua se manifesta em correlação com o Sol. Suas duas características mais fundamentais derivam, de um lado, de a Lua ser privada de luz própria e não passar de um reflexo do Sol; de outro lado, de a Lua atravessar fases diferentes e mudança de forma. Ë por isso que ela simboliza a dependência e o principio feminino, assim como a periodicidade e a renovação.A Lua é o símbolo dos ritmos biológicos. Ë o astro que cresce, decresce e desaparece, cuja vida depende da lei universal do vir-a-ser, do movimento e da morte. A Lua tem uma história patética, semelhante à do homem, mas sua morte nunca é definitiva. Este eterno retorno às suas formas iniciais, essa periodicidade sem fim fazem com que ela seja por excelência o astro dos ritmos de vida.O mesmo simbolismo liga entre si a Lua, as águas, a chuva, a fecundidade das mulheres, dos animais, da vegetação, o destino do homem depois da morte as cerimônias de iniciação. As sínteses mentais formadas possíveis de revelação do ritmo lunar colocam em correspondência e unem realidade heterogêneas.A Lua é também o primeiro morto. Durante tr6es noites, em cada mês lunar, ela está como morta, desapareceu. Depois reaparece e cresce em brilho. Ela é para o homem o símbolo dessa passagem da vida à morte e da morte à vida.A Lua representa o conhecimento indireto, discursivo, progressivo, frio. Como sua luz não é mais que um reflexo da luz do Sol, a Lua é apenas o símbolo do conhecimento teórico, conceitual, racional. Nesse ponto está ligada ao simbolismo da coruja.

MERCÚRIO : Hermes ( Mercúrio, entre os romanos) inventou a lira que foi adotada por Apolo. Inventou, a seguir a flauta, que deu de presente a Apolo, em troca de lições de magia divinatória e do caduceu de ouro (símbolo da circulação e integração das polaridades). Impressionado com tal habilidade, Zeus escolheu Hermes especialmente para servir-lhe de mensageiro junto aos deuses dos infernos, Hades e Perséfone.Tem por atributo sandálias aladas, que lhe dão força de elevação e deslocamentos rápidos. Preside o comércio. Mas, rege também a astúcia e o intelecto pervertido; é o protetor dos ladrões.Hermes era ainda representado com um cordeiro aos ombros: daí o nome de Crióforo; divindade agrária, na origem, protetor dos pastores, mas também guia das almas no reino dos mortos. Dessa função deriva o nome de Hermes Psicopompo, o Acompanhador de Almas.Deus das viagens, era honrado especialmente nas encruzilhadas dos caminhos, onde suas estátuas serviam para afastar os fantasmas e evitar os maus encontros.

VÊNUS : Afrodite (Vênus, entre os romanos) é a deusa da mais sedutora beleza. Filha do sêmen de Urano (o Céu) derramado no mar, após a castração pelo seu filho Cronos; esposa de Hefestos, o Coxo, por ela ridicularizado em várias situações, Afrodite simboliza as forças irreprimíveis da fecundidade, não só em seus frutos, mas no desejo apaixonado que ascendem entre os vivos. Por essa razão, é muitas vezes representada em meio às feras que a escoltam.Ë o amor sob sua forma física, o desejo e o prazer dos sentidos.O mito de Afrodite é por muitos considerados como imagem de uma perversão da alegria de viver e das forças vitais, não porque a vontade de transmitir a vida esteja ausente do ato do amor, mas porque o próprio amor não estaria humanizado : permaneceria no nível animal, digno das feras que compõem o cortejo da deusa. Entretanto, havendo uma evolução, Afrodite pode surgir como deusa que sublima o amor selvagem, integrando-o a uma vida verdadeiramente humana.

MARTE : Ares ( Marte, entre os romanos) é filho de Zeus e de Hera. Entretanto, é o mais odioso de todos os Imortais, diz seu pai: esse louco que ignora as leis, diz sua mãe; esse exaltado, esse mal encarnado, esse cabeça-de-vento, diz sua irmã. Brilhantemente armado de elmo, couraça, lança e espada, nem sempre brilhante em suas proezas: Atená sobrepujava-o no combate graças à sua inteligência superior; um herói grego, Diomedes, em virtude de sua maior destreza, chegou a ferir o deus numa luta corpo a corpo; Hefaístos colocou-o numa posição ridícula perante Afrodite.Sem ser necessariamente um deus da vegetação, Ares é também um protetor das colheitas, o que é uma das missões do guerreiro. Embora seja saudado com o título de deus da primavera, não é porque favoreça o impulso de expansão da seiva, mas porque o mês de março inaugura a estação em que os príncipes saem para guerrear. Também é o deus da juventude: guia os jovens que emigram para fundar novas cidades. Rômulo e Remo seriam seus dois filhos gêmeos.Se, por um lado, é o Matador, o Defensor dos lares e dos jovens, por outro, Ares é também o Punidor e Vingador de todas as ofensas, sobretudo da violação dos juramentos; e as vezes é, igualmente, venerado como o deus do juramento.

JÚPITER : Júpiter, deus supremo dos romanos, corresponde ao Zeus dos gregos. Ë representado como divindade o céu, da luz diurna, do tempo que faz, e também do raio e do trovão, poder soberano, presidente do conselho dos deuses, aquele de quem emana toda autoridade. Júpiter simboliza a ordem autoritária, imposta do exterior. Seguro do seu direito e do seu poder de decisão, não busca nem diálogo nem persuasão: troveja.Se Zeus foi amamentado pela cabra Almatéia e se tem como atributo a cornucópia; se é o soberano ordenador e distribuidor das graças e dons para todos os homens, Júpiter se encarna na hora crepuscular em que o bebê sorve o leite materno e faz o aprendizado da manifestação dos seus instintos. Também a condição jupiteriana do ser humano inscreve-se ao longo de uma série contínua que acumula as aquisições, vantagens, proveitos, benefícios e favores destinados a satisfazer seu apetite de consumidor, seu instinto de proprietário, sua instalação terrestre, que se trate de ter quer de ser alguém. Esse esquema de enriquecimento vital, inseparável do estado de voracidade, de confiança, de generosidade, de otimismo, de altruísmo, de paz e felicidade, contribui para alimentar a saúde e para amadurecer a evolução dos seres.

SATURNO : O simbolismo do Saturno romano não se identifica com o Cronos grego. Entre os romanos ele representa a era de ouro; é o herói civilizador, que ensina o cultivo da terra. Nas festas que lhe eram consagradas, as Saturnais, as relações sociais eram invertidas - os criados mandavam em seus senhores e estes serviam os seus escravos à mesa. Isso talvez seja uma obscura lembrança do fato de que Saturno havia destronado o pai, Urano, antes de , por sua vez, ser destronado por seu filho Zeus ou Júpiter.Para os sumerianos e babilônios, Saturno é o astro da justiça e do direito, ligado às funções solares de fecundação, de governo e de continuidade na sucessão dos reinos e das estações.Entre os gregos, o mais jovem dos Titãs, filho de Urano, Cronos encerra a primeira geração dos deuses cortando fora os testículos do pai. Para não ser destronado, segundo a predição de seus pais, devora os próprios filhos logo que nascem. Réia, sua irmã e esposa, foge para Creta a fim de dar à luz Zeus. E em lugar do menino, dá a Cronos, para comer, uma pedra. Adulto, Zeus ministra a Cronos (Saturno) uma droga que o faz vomitar todos os filhos que engolira. Com o auxilio deles , Zeus acorrenta Cronos, mutila-o, e abre a era da segunda geração dos deuses.

URANO : deus do céu, na Teogonia de Hesído. Símbolo de uma proliferação criadora sem medida e sem diferenciação, que destrói por sua própria abundância, tudo o que engendra. Cronos ( Saturno) intervém; é ele quem, com um golpe de foice sobre os órgãos de seu pai, termina com suas secreções indefinidas. A mutilação de Urano põe fim a uma fecundidade estéril, introduzindo a ordem no mundo, com a aparição de Afrodite ( Vênus ), nascida da espuma ensanguentada do membro gerador uraniano.

NETUNO : Poseidon é o deus dos mares, oceanos, rios, fontes e lagos. O domínio das águas lhe pertence, assim como os infernos a Hades, o Céu a Zeus, e a terra aos três irmãos. Seu atributo, o tridente, ou arpão de três pontas, análogo ao raio de Zeus, representou originalmente o jorrar das ondas e os relâmpagos. Pois Poseidon é um deus temível: ele é antes o deus do mar revolto que da bonança. Ele faz oscilar a terra e as marés, diz Homero. Também é representado pelos animais que encaram o principio da fecundidade, o cavalo, o touro, o golfinho.Ë Poseidon que Platão atribuirá o poder, na Atlântida fabulosa, de fazer esguichar de baixo do chão duas fontes de água, uma quente, a outra fria, e fazer nascer sobre a terra plantas nutritivas de todas as espécies e em abundância.

PLUTÃO : quando os três filhos de Cronos (Saturno) partilharam a herança paterna, o mar escumante, diz Homero, coube a Poseidon ( Netuno), o céu imenso, com todas as nuvens, foi o apanágio de Zeus( Júpiter),e Hades ( Plutão) obteve, como domínio próprio, o mundo subterrâneo. Vivendo constantemente no seio da noite espessa e profunda, confinado para sempre num império de insondável tristeza, Hades, coberto por um elmo que o tornava invisível, era o sombrio rei do reino dos Mortos. Como sabia que nenhuma mulher desejava, por seu gosto, descer viva ao seu palácio tenebroso, o rei do mundo invisível resolveu raptar a filha de Deméter, a casta jovem Cora, que mais tarde seria chamada Perséfone. Disso resultou contratempos terríveis que colocaram em risco de vida imediata todos os mortais. A pendência se resolveu quando Hades concordou que sua esposa passasse dois terços do ano em companhia de sua mãe e dos outros deuses olímpicos e , o outro terço, ao lado de seu esposo, nas profundezas sombrias da Terra.


Desconheço o autor.
“Nós podemos tornar nossa vida feliz ou miserável. As duas coisas dão o mesmo trabalho.”

(Carlos Castañeda)

Girassol
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Post by Girassol »

Olá:

Eu não tenho muito conhecimento sobre atrologia. Como leitora de Jung acho bem interessante o fato deste reconhecido psiquiatra indicar os pacientes para astrólogos quando ele sentia que a situação não estava progredindo.

Um abraço.

Theresa
Girassol

ligia
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Post by ligia »

Olá!
Acabo de me associar e não resisti a comentar este tópico, embora eu seja iniciante na obra de Campbell.
Em As máscaras de Deus - mitologia primitiva, ele fala sobre os mitos dos povos caçadores e dos agricultores. Fala então dos xamãs, e o quanto estes são expressão de mitos da terra, ao contrário dos mitos do céu, dos organizadores de calendário.

Fiquei pensando algo sobre a mitologia grega, a cronologia de Urano que é castrado por Crono (Saturno) e então passa a existir o tempo. A castração foi com uma foice de sílex. E daí Crono passa a devorar seus filhos, para não ter o mesmo destino do pai, e é claro que isso acontece quando Zeus o destrona.

Essa passagem de Crono para Zeus não poderia ser uma representação simbólica da passagem do Paleolítico para o Neolítico? E então, o que seria o anterior, a castração de Urano? Talvez esse deus simbolize uma época anterior à organização social consciente.

Bem, estou só pensando em algumas relações possíveis.

Sobre a relação entre os planetas e o mito pessoal, li recentemente a Jean Shinoda Bolen, As deusas e a mulher (Goddesses in every woman). Ela tem o correlato masculino.

Para as mulheres, as deusas são Héstia, Atena e Ártemis como deusas virgens, Hera, Deméter e Perséfone como vulneráveis (dependentes de uma relação), e Afrodite como deusa alquímica (uma deusa muito antiga, nascida do oceano).

Para os homens, Zeus, Hades e Possêidon como arquétipos do pai, Apolo, Ares, Hefesto, Dioniso e Hermes da geração dos filhos.


Abraços a todos,
Lígia

Girassol
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Post by Girassol »

Oi Lígia,

Seus comentários são bem estimulantes. Eu gosto de deixar a mitologia soltar a minha imaginação, sem me preocupar se as relações que faço são certas ou erradas. Procuro deixar conclusões para mais tarde!

Joseph Campbell dizia que: “você pode interpretar um mito a sua maneira”.

Um abraço.

Theresa
Girassol

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